Transcrito, com a devida vénia e respectiva autorização, do Blogue Jakim&Boaz
História e Estrutura Simbólica dos Rituais
Temos o grato prazer de apresentar aos nossos leitores alguns trechos da interessante e essencial obra de Raoul Berteaux “La Symbolique de la Loge de Perfection du Rite Écossais Ancien et Accepté, du 4º au 14º degré” – Éditions Maçonniques de France (EDIMAF), 2012.
Embora este trabalho transcenda e ultrapasse o que é considerado ser o universo da maçonaria azul, achamos contudo interessante e até conveniente, continuar a apresentar neste Blog, sem perder o rumo prioritário, (como já o temos efectuado, esporádicamente), alguns trabalhos mais dirigidos aos Graus Complementares, uma vez que toda a sua Biblografia está disponível ou na Internet ou na Bibliografia indicada, à venda nas livrarias especificas, podendo e devendo constituir, na nossa modesta opinião, um ponto de motivação para que os Mestres das Lojas Azuis não tendam a acomodar-se no aconchego do «sedentarismo intelectual» e procurem complementar a sua formação, elevando o seu patamar com novos conhecimentos, que deverá constituir o estímulo de parte significativa dos discípulos de Mestre Hiram, na procura duma Luz interior «cada vez mais forte» --- Os capítulos e partes aqui selecionados são da inteira responsabilidade da Comissão Editorial deste Blog”
HISTÓRIA
1 – Rituais do Século XVIII
Segundo Ragon: “…o Século XVIII viu nascer pelo menos 75 sistemas… e cerca de 1 400 Rituais, um pouco por toda a Europa”. Um certo número destes «sistemas» são provenientes de «Ritos» que ordenam o escalonamento dos Graus Iniciáticos e estabilizam, pelo menos relativamente, os textos das cerimónias rituais. Os manuscritos dos Rituais são de alguma forma os ajudantes da memória, de forma que a representação formal dependerá sempre da opção que levará o copista, segundo aquilo que deseja conservar por escrito.
Damos perfeitamente conta deste facto, se reagruparmos cópias de manuscritos dum mesmo grau; e aí encontraremos o mesmo tema iniciático, mas os textos comportam omissões, modificações e erros de
cópia. Ficamos frequentemente desamparados pela falta de indicações relativas à gestão e regimento teatral, os gestos de acompanhamento são supostamente conhecidos.
Apesar destas restrições, podemos considerar como se segue, as linhas directrizes dos rituais do Século XVII. Um primeiro documento, excepto o cerimonial, descrevia a decoração da Loja: cores das cortinas, número de luzes, objectos utilizados, títulos e locais dos oficiantes, roupas, fitas e jóias.
O cerimonial compreendia 3 partes: a abertura dos trabalhos, a recepção do candidato (que se tornava assim o recipiendiário) e o fecho dos trabalhos. A abertura e fecho dos trabalhos são apresentados em modo verbal (por questões e respostas). Quanto ao cerimonial de recepção, é relativamente limitado; comporta, em princípio, a prestação do juramento e comunicação das palavras, sinais e toques. Tomamos conhecimento a prática do Rito segundo as gravuras da época: os Oficiais e os participantes, pouco numerosos, estão em pé em volta do tapete da Loja. Trata-se portanto duma «recepção», no sentido próprio do termo. Contráriamente, encontramos muitas vezes, dois documentos importantes em anexos.
O primeiro diz respeito à história do Grau: é apresentado em modo recitativo, sob a forma dum «discurso histórico». O segundo respeita à «Instrução do Grau», apresentada em modo verbal; contem os ensinamentos simbólicos e morais. O neófito é suposto dar as respostas correctas às perguntas, mas elas são dadas em vez dele. À época, o ensino moral tinha uma característica individualista; convidadva o neófito à «prática das virtudes».
Parece que à época, os Oficiais dispunham duma grande amplitude para a execução do cerimonial; este último podia, segundo as circunstâncias, ser limitado à comunicação dos arcanos do grau e da instrução do grau, ou ser desenvolvido em função dos argumentos do discurso histórico.
2 – Rituais do Século XIX
A via maçónica adaptou-se às condições culturais da época e dos lugares; esta constituiu a condição específica da sua perenidade. Assim a apresentação dos rituais maçónicos foi adaptada à mentalidade dos grupos culturais.
A concepção teatral foi profundamente modificada pelo movimento romântico. Segundo a tragédia clássica, os actores declamavam, em cena, as peripécias dum acção que se passava noutra parte; com o teatro romântico a acção entra em cena. No século XIX, a Maçonaria adopta estas concepções para a apresentação dos rituais. Os autores maçónicos inspiram-se na récita histórica e na instrução do grau, para desenvolver os argumentos que incorporam num texto, trabalhado como uma peça de teatro, os Oficiais e o recipiendiário transformando-se em actores.
Tomamos melhor conhecimento das modificações da estrutura dos rituais, considerando a obra de Albert Pike.
«Morals and Dogma» de Albert Pike
Albert Pike exerceu a função de Grande Comendador do Supremo Conselho para a Jurisdição Sul dos Estados Unidos, de 1859 a 1891. Publicou em 1871 a sua célebre obra, intitulada «Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Free Masonry», consagrado a comentários relativos aos graus do Rito, do primeiro ao trigéssimo segundo (a edição de 1956 não contem nada mais do que 861 páginas).
Segundo o autor, este livro é composto, em partes iguais, de compilações e de reflexões pessoais. Os comentários são polidos pela erudição excepcional do autor, que apela aos pensamentos de numerosos escritores e filósofos e que não exita em recorrer ao estudo das línguas originais, em particular o sânscrito.
A. Pike procedeu a uma nova redação dos rituais do REAA. Incorporou no cerimonial de recepção argumentos trazidos dos discursos históricos as instruções do grau que, recordemo-nos, figuravam em anexos aos rituais do século XVIII. Adicionalmente ele incorporou fragmentos da sua obra «Morals and Dogma».
A. Pike «dramatizou» os jogos cénicos dos rituais, seguindo neste particular o exemplo do teatro romano. Deste facto resulta que a mensagem é mais directa e oferece mais impacto sobre a assistência. Enquanto que na Europa do século XVII os ensinamentos morais do Rito tinham um carácter individual, de natureza filosófica, orientada para a prática das virtudes, o ensinamento moral, consideravelmente desenvolvido por A. Pike, toma um carácter social, de natureza empírica, orientado sobretudo para os objectivos de entreajuda e de beneficência.
Enfim, devido ao crescimento considerável do número de membros do Rito nos EUA, A. Pike exprimiu-se numa linguagem acessível para a maior parte, o que não o eximiu de acentuar o carácter exotérico da mensagem e de amenizar o carácter esotérico. Pike estava perfeitamente consciente disso, porque não se esqueceu de encarregar o Orador de afirmar, no final do discurso de Instrução, que o neófito deverá procurar outros sentidos do que os que são explicitados pelo texto, no cerimonial de recepção.
Porque A. Pike introduziu no ritual, o «discurso do Orador» o que lhe permitiu amplificar os desenvolvimentos relativos ao ensinamento moral do grau. Por todas estas razões a estrutura dos rituais foi modificada.
Como no século XVIII um primeiro documento, fora do cerimonial, descrevia a decoração a Loja, o cerimonial de recepção comporta ainda três partes, (Abertura, Recepção e Fecho) mas o texto relativo à recepção foi considerávelmente desenvolvido por incorporações provenientes do discurso histórico, da instrução do grau e da obra «Morals and Dogma».
A obra de redação dos rituais do REAA por A. Pike é monumental; durante muito tempo ninguém ousou nem tocar-lhe. A extrema mobilidade dos rituais do século XVIII deu lugar a um imobilismo estereotipado no XIX, bem como durante a primeira metade do século XX.
3 – Rituais do Século XX
Os rituais de A. Pike serviram de modelos. As gerações de Maçons que se sucederam durante um século acomodaram-se, emendando-os; mas não trouxeram nenhumas alterações estruturais aos rituais. Os ajustes, as modificações, as supressões foram inspiradas por considerações de adaptação às condições locais, bem mais do que a preocupação de encontrar ou de reencontrar o sentido iniciático do Rito. A. Pike tinha já tido alguns graus de liberdade com a simbólica dos graus: as liberdades transformaram-se em licenças: uma parte da mensagem iniciática foi perdida.
Na Bélgica, os rituais de A. Pike foram traduzidos em francês pelo Irmão Pardon, em 1932. Exemplares dessa tradução estão conservados nos arquivos do Supremo Conselho.
Enquanto que o Grande Comendador Goblet d’Alviella introduziu alterações profundas nos rituais do Areópago, os da Loja de Perfeição permaneceram inalterados. Ora as adaptações introduzidas por A. Pike, à época e no meio cultural ambiente, estão marcadas pelo tempo. Desde já um trabalho de revisão se impõe.
Nos EUA, os rituais do REAA receberam adaptações de forma. Permanecem concebidos para serem apresentados numa teatralização apropriada, por um grande número de membros.. O espírito que anima o Rito hoje, poe ser bem compreendido pelo livro escrito pelo Grande Comendador da Jurisdição Sul, Henry C. Clausen: «Clausen’s Commentaries on Morals and Dogma».
A primeira edição surgiu em Outubro de 1974, sendo rapidamente seguida duma segunda edição em Julho de 1976. A obra de H. C. Clausen não é um resumo da de A. Pike, embora cada um do autores comente os 32 graus do REAA. H.C. Clausen dirige-se ao seus Irmãos com a linguagem e segundo a mentalidade deste fim de século. Este livro, mais condensado do que o de A. Pike (250 páginas em vez de 860)apresenta, para cada grau, dois parágrafos, um intitulado «Resumo» e o outro «Comentários».
Lá encontramos um conjunto de propostas de comportamento, tanto no que respeota à conduta individual, quer quanto à mobilização ao serviço da comunidade pelas vias da beneficência, da solidariedade, do patriotismo.
É um panegírico da defesa da liberdade num mundo livre, liberdade concebida como um bem espiritual precioso que é preciso merecer. Este livro contem numerosas reproduções em cores. É conveniente assinalar, particularmente para o estudo do Rito, as reproduções em cores dos aventais, cordões e jóias dos 32 primeiros graus.
Estrutura Simbólica dos Rituais
Após uma sobrevoar dos temas iniciáticos da «Loja de Perfeição», seguida duma análise da revolução dos rituais do século XVIII ao século XX, abordamos agora o estudo da estruur simbólica dos rituais.
Examinaremos sucessivamente os pontos seguintes:
A – Descrição preparatória
B – Lenda histórico-mítico
C – Sistemas simbólicos incorporados nos rituais
D – Redação dos rituais
E – Ensinamentos do Grau
Deduziremos o método de trabalho que adoptámos para o estudo simbólico dos rituais da «Loja de Perfeição»
A – Descrição Preparatória
Cada ritual comporta um texto descritivo que define e situa os elementos simbólicos do grau.
Este texto situa o lugar da Sessão da Loja: no Templo, no adro do Templo, num apartamento do palácio, etc…
Este texto descreve a decoração da Loja: cor das «tentures», decorações sobre as «tentures»,, número e cores das colunas, número e disposição das luzes.
Descreve tudo o que respeita aos Oficiais, de que alguns representam personagens da recitação histórico-mítica e precisa os seus nomes, os seus títulos, a suas funções, os seus lugares na Loja, os seus utensílos ou armas.
Enfim, descreve descreve tudo o que respeita aos endereços, os aventais, os vestuários, os cordões, os colares longos e as joias que os acompanham.
Este texto preparatório tem por objectivo de colocar no lugar os elementos simbólicos que irão desempenhar uma função durante a cerimónia ritual.
Trata-se portanto duma colocação em lugar «estático» de imagens e sinais.
É o desenvolvimento do ritual, seja em «modo verbal», por perguntas e respostas, seja em «modo participativo» por um jogo cénico da lenda histórico-mítica, que irá animar estas imagens e estes sinais e conferir-lhes a função de símbolo.
A totalidade dos elementos simbólicos não figura neste texto descritivo preparatório; outros elementos simbólicos são apresentados por ordem sucessiva, no ritual.
B – Lenda Histórico-mítica
O ritual de cada grau comporta uma lenda histórica, que a maior pate das vezes evoluiu sob a forma mítica. A recordação dos acontecimentos históricos e das personagens autênticas modifica-se com o decorrer dos séculos, donde o deslizamento de eventos para categorias e dos indivíduos para arquétipos. No decurso desta evolução, a história deforma-se à medida que o mitose forma.
Também o mito não é ele próprio destinado a revelar uma situação histórica, mas sim uma situação fundamental do ser.
Em razão da importância que reveste a escolha da lenda mítica pela percepção da simbólica dos graus, nós apresentamos alguns comentários sobre a estrutura e sobre a função do mito.
1 – Estrutura do Mito
O mito é memória do mundo, uma lembrança em forma de poemas, que recitam as gerações com o objectivo de recordar… de «se re-recordar». É uma memória colectiva, não histórica.
A lenda mítica faz apelo a personagens históricas, como a personagens fictícias; mas de todo o modo, a historicidade não representa mais do que um papel acessório. «o mito é históricamente falso, mas psicológicamente real». (não é verdade histórica, mas realidade psicológica).
O mito não sai dos nossos sonhos particulares; ele não é a expressão da nossa imaginação imbuida de fábulas. O mito relata um evento. Isto deve ser cumprido de maneira muito simples. «o que chega» enquanto que evento é sem importância. O que é importante é o acto: o acto primordial.
Quando se completa o acto? «no incío?» « Bereshit?» «naquele tempo?». Num tempo mítico que difere do tempo profano. O tempo profano é linear, irreversível. O tempo mítico ou tempo sagrado é cíclico; ele reitera indefinidamente.
2 – Função do Mito
O mito é destinado a fazer tomar consciência de Si, para separar forças e fraquezas, para conhecê-las. Neste sentido, o mito é um meio de conhecimento, dum conhecimento de ser total; duma realidade profunda mais do que uma verdade, entre outras verdades.
O mito não tem uma função moral, sem até agora rejeitar anenhum valor moral; as regras das restrições impostas pelo grupo social são de considerar sob um outro plano. Conhecer os mitos, é aprender o segredo dos setes e das coisas.
A história informa como as coisas se passaram; o mito diz como as faz aparecer – ou reaparecer, logo que elas desaparecem. O mito não tem por função expressar os nossos sonhos pessoais, mas a de traduzir uma necessidade irracional, que lhe confere um carácter colectivo. O mito é vivido e sentido colectivamente, embora o que ele exprime nos diga respeito pessoalmente.
A função do mito pode ser definida do modo seguinte: descrever ou contar um mito, é reactualizar um tempo sagrado, é abolir um tempo profano, simbólicamente. É provocar uma rotura e propor um modelo exemplar. O herói não traduz um resultado, mas um estágio de passagem.
2 – Papel da lenda-mítica no Ritual
O ritual do grau tem por objectivo apresentar um tema iniciático. A lenda-mítica é o suporte desse tema.
Vejamos primeiro o que representa a lenda-mítica enquanto meio; defeni-lo-emos de seguida enquanto fim. A lenda-mítica exprime-se em linguagem simbólica. Os símbolos aparecem sucessivamente no decurso do recital.
Este recital torna-se então o meio que traduz as relações recíprocas entre os sinais, bem como as suas combinações e as suas condensações. O mecanismo é assim colocado em lugar, no tempo.
Desde já a lenda-mítica tem por função actualizar um acontecimento primordial e de propor a imitação dum «modelo-exemplar», abolindo o tempo profano, provocando uma «rotura» e estabelecendo um tempo sagrado. Porque os «mitos não podem ser recitados a não ser num tempo sagrado» (M. Eliade), sem o qual não são mais do que simples anedotas.
Passemos agira à finalidade da lenda-mítica. A finalidade é de concentrar a atenção de todos os participantes no cerimonial sobre um único assunto, escolhido de tal modo que reitera e actualiza um acto primordial, igualmente importante para todos os participantes, porque todos estão preocupados.
O importante, é o que é sentido, porque será isso que cria o sentimento de união. Contadores e ouvintes são projectados num "outro tempo". Esqueçem a sua condição profana. Deixam a aparência, o «ter», o mundo das ilusões para entrar no real, o mundo do «ser».
Somos muitas vezes tentados a interpretar os mitos; é preciso pois ter bem consciência do facto de que toda a significação que se lhe dá, ou que julgamos descobrir, particulariza o mito. Os mitos alteram de significação consoante as épocas; Os mitos, eles próprios, não mudam, mas sim a nossa atitude perante eles. Cada época escolheu um sentido privilegiado, omitindo ou reprimindo o resto; cada pessoa opera do mesmo modo e o modo muda tudo ao longo da vida.
Estas considerações são válidas para os rituais maçónicos logo que façam apelos aos mitos.
Colocando-nos sob o ponto de vista simbólico, aconselhamos a tratar os mitos como símbolos complexos e abordá-los segundo as leis e as regras da simbólica. Os mitos, como os símbolos são ambivalentes. A «lei de correspondência» é-lhes aplicável: uma mesma lenda mítica pode possuir várias significações, que não são arbitrárias, porque elas «correspondem-se» em estados ou domínios diferentes.
Inversamente a «lei da correlatividade» é-lhes igualmente aplicável: um mesmo conceito e uma mesma percepção podem ser ilustradas por lendas míticas diferentes.
C – Sistemas Simbólicos incorporados nos Rituais
Com finalidade de facilitar a aproximação simbólica aos grau da «Loja de Perfeição», agrupámos os elementos simbólicos de cada grau em «sistemas simbólicos», constituídos, recordemos, de conjuntos de imagens, de sinais ou de objectos pertencentes a m mesmo domínio. Este método de trabalho levou-nos a a distinguir os sistemas simbólicos seguintes.
Sistema simbólico Espacial – reagrupa todos os elementos relativos aos lugares e às orientações / direções;
Sistema simbólico Temporal – reagrupa todos os elementos relativos aos tempos e à duração: horas de abertura e fecho dos trabalhos, idades.
Sistema simbólico Verbal – compreende as palavras de passe, as palavras sagradas, as «Grandes Palavras».
Sistema simbólico Nominativo – os elementos deste sistema podem ser anexados ao precedente.
Separámo-los em razão da dificuldade de transposição da língua hebraica para as línguas modernas.
A escrita hebraica é expressa por sinais formando um alfabeto. A cada sinal corresponde a pronuncia de um som ou também de um número. Por exemplo:
Sinai = (Samech)60 + (Iod) 10 + (Nun) 50 + (Iod) 10 = 130
Iehovah = (Iod) 10 + (Hé) 5 + (Vau) 6 + (Hé) 5 = 26.
O nome complete pode designar uma personagem ou um lugar ou também um número formado pela soma das figuras representados. Cada vocábulo, como cada nome têm pelo menos dois sentidos que se correspondem. A ciência destas correspondências toma o nome de «guematriâ». A Kabala acrescentou-lhe a utilização de permutações das letras e das figuras; a ciência correspondente denomina-se «temura».
Ora o nome das personagens e dos lugares / ligações entre as lendas míticas servem de suportes aos graus provenientes de nomes hebreus, que os nossos rituais modernos formulam eufónicamente. Esta transposição eufónica está na origem das variantes dos nomes dum mesmo personagem. Nós retomámos para cada grau a etimologia segundo a língua hebraica, desde que ela seja conhecida ou suportada pelos «trolhamentos» de Vuillaume e de Delaulnaye. Além do mais todos os nomes das personagens e dos lugares são apresentadas, em anexo, sob a forma de glossário alfabético.
Sistema simbólico Gestual – reagrupamos sob este título os sinais, as respostas, os toques, as marchas.
Sistema simbólico Numérico – reagrupamos sob este título os números de luzes e de colunas, o número de anos da idade do grau, o número de passos da marcha e o número de golpes da bateria.
Sistema simbólico Geométrico – reagrupamos sob este título as formas geométricas simples (triângulo, pentágono, circulo, etc…) e as construções geométricas (triângulo inscrito no cirrulo, círculo inscrito no pentágono, etc….).
Sistema simbólico das Cores – reagrupamos sob este título as cores das faixas, dos aventais e dos cordões ou dos colares.
Sistema simbólico Funcional e Honorífico – reagrupa os títulos e as funções dos Oficiais que representam as personagens da lenda mítica.
D – Redação dos Rituais
Para clareza do exposto comentaremos separadamente os textos redigidos em «modo verbal» e os textos apresentados em «modo participativo».
A redação em «modo verbal» é geralmente adoptada para a abertura e o fecho dos trabalhos, bem como para a «instrução do grau».
A questão colocada coloc atenção sobre um elemento simbólico; a resposta dada descreve ou comenta este elemento. As questões e as respostas devem ser redigidas brevemente, com a finalidade de facilitar a memorização. Em princípio, nada deve ser modificado nestas partes do ritual; constatamos contudo que eles são muitas vezes bem conservados e, po este facto, constituem referências importantes para o estudo da simbólica do grau.
Pelo contrário, a redação em «modo participativo» apela a comentários mais matizados. O redactor dum ritual deve inspirar-se na lenda histórico-mítica e formular um cenário que será representado pelos actores. A própria natureza desta transposição constrange o redactor a escolher os argumentos, a desenvolver uns, a minimizar outros. A redação deve-se adaptar à língua vinculada, do mesmo modo que ao espirito do tempo e à mentalidade do grupo cultural ambiente. O redactor deve ter a preocupação de «fazer passar a mensagem». Em consequência a redação desta parte do ritual deve ser objecto de revisões periódicas.
E – Ensinamentos do Grau
Os comentários precedentes mostraram que os elementos simbólicos de cada grau estão presentes:
- na descrição preparatória,
-nos textos em «modo verbal» de abertura dos trabalhos, do fecho dos rabalhos e da instrução do grau,
- na récita histórico-mítica apresentada em «modo participativo».
Ou os rituais comportam muitas vezes comentários agrupados sob a forma de um discurso do orador, ou bem disseminados nas diversas partes do texto. Estes comentários, a maior parte das vezes de ordem moral, são destinados à edificação do neófito; mas acontece que estes comentários ultrapassam o quadro do ensino moral e penetram em domínios diversos tais como a religião, a filosofia, a metafísica, a psicologia e possuem mesmo alguns tentáculos para as filosofias científicas, sociológicas e políticas.
O conjunto destes comentários constitui um complemento ao ensino simbólico propriamente dito. A importância e a natureza dos comentários variam segundo as épocas e segundo os meios culturais no seio dos quais o rito é praticado. As condições de tempos e de lugar, conferem estes comentários um carácter impermanente; eles diferem neste aspecto do ensino simbólico, cujo carácter essencial é de ser permanente, porque diz respeito ao ser humano de hoje, como de ontem, como de amanhã.
Esta distinção é muito importante, porque sublinha a diferença fundamental entre o ensino iniciático do rito e as outras formas de ensino, destinadas à identificação do neófito, formas que nós reagrupamos sob a denominação e «ensinamento participativo», uma vez que ele procuram todos exprimir-se em linguagem profana (isto é, não simbólica e não sagrada) dos dados do ritual iniciático. Deste modo, julgamos útil demarcar bem as características essenciais destes dois modos de ensino.
1 – Modo do Ensino Iniciático
A apresentação ritual do tema iniciático é a reiteração de um acto primordial; desde logo o ensino iniciático consiste na prática do ritual. O neófito inicia-se reiterando-se, quer dizer assistindo, pois participando no cerimonial ritual. A ascese que lhe é aconselhada é a de concentrar a sua atenção relativa aos sinais simbólicos propostos e de meditar sobre os temas iniciáticos representados.
O ensino iniciático não obedece ao modo da relação de professor para aluno, mas ao de mestre a discípulo. Segundo o primeiro modo, o professor transmite um conhecimento que ele possui, depois de um processo didático que lhe permite verificar se o aluno compreendeu bem. Segundo o segundo modo, é o discípulo que progride partindo de conhecimentos potenciais que lhe são próprios, recebendo conselhos do mestre relativamente à técnica a seguir.
Segundo o modo de ensino iniciático, a aproximação pela via iniciática compromete o ser na sua totalidade; a intuição, a emoção, os choques psíquicos, a percepção directa intervem tanto como os elementos sensoriais e intelectuais. A aproximação por esta via conduz em direcão à percepção do significado esotérico (procura do sentido escondido) e do significado analógico (procura do sentido que se eleva acima do significado literal).
2 – Modo do Ensino Interpretativo
A aproximação iniciática não convem a todos, nem mesmo para aqueles que são adequados para isso. Portanto, é conveniente projectar um ensino transposto. O que quer isto dizer? Trata-se de formular o ensino do grau numa forma assimilável, por um transferência de sentido num domínio particular.
O domínio moral é o que convém ao maior número. Ele não se desvia do objectivo do ensino iniciático, uma vez que se refre a uma filosofia de comportamento e não a uma filosofia de saber.
Este ensino é o que melhor se adapta à criação dum espírito de comunidade fraternal à finalidade social. Mas em matéria iniciática o ensinamento moral é dado para ser superado.
A transposição par o domínio moral não é exclusiva. Pode-se operar em diversos domínios como já dissemos: religião, filosofia, metafísica, psicologia e filosofias científicas, sociológicas e políticas.
Seria em vão tentar estabelecer uma hierarquia de valores, quanto à escolha do domínio de transposição, o melhor sendo o que convém melhor ao neófito. Mas qualquer que seja a via escolhida, o neófito não deve jamais perder de vista que toda a interpretação depende si e só dele e que só ele está preocupado.
A interpretação é função da sua personalidade, da sua orientação cultural, da sua experiência vivida, do seu «karma» do seu «museu imaginário». A explicação é uma projeção do seu ego sobre os símbolos do grau. A partir de então, todos os tipos de ensinamento interpretativos são sujeitos a uma mesma «regra de ouro»: nunca se agarrar a uma só interpretação.
Porque agarrar-se a uma só explicação, é matar o símbolo, substituindo-o por uma alegoria, como fixar uma único significado à lenda mítica, é aniquilar a sacralidade do mito e destruir o seu carácter arquétipo, substituindo-o por uma anedota lendária.
Qualquer que seja a opção do neófito respeitante à via interpretativa adoptada, aconselhamo-lo a pesquisar sistematicamente outras interpretações diferentes daquelas que surgem espontaneamente, seja referindo-se a outros domínios, seja escutando atentamente as interpretações formuladas por pessoas de carácter e temperamento diferentes do seu. Porque, repitamo-lo, convém não se restringir a uma interpretação particular, não somente porque uma tal atitude bloqueia todo o aperfeiçoamento, mas também porque ela é perigosa, dado tornar-se vulnerável à «hybris», à imoderação que faz aqueles a quem toca os «detentores da verdade».
Raoul Berteaux
- “La Symbolique de la Loge de Perfection du Rite Écossais Ancien et Accepté, du 4º au 14º degré” –Éditions Maçonniques de France (EDIMAF), 2012
( - tradução livre do francês de partes da Obra atrás referida, por “Jakim & Boaz”, sendo que os capítulos e partes selecionados são da inteira responsabilidade da Comissão Editorial do Blog”)
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