Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

31 de maio de 2022

O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ- INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA

 

O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ- INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA

Com as Lojas Azuis trabalhando no Ritual do Grau 1, as cerimónias desenvolvem-se em torno do respectivo Painel.

Em torno do Painel os Irmãos exercitam as suas mentes como maçons especulativos livres e aceitos

Fazer a interpretação da simbologia do Painel é uma tarefa complexa e talvez nunca acabada, como tento explicar no final deste texto.

Quando o neófito observa pela primeira vez o Painel colocado pelo Irmão Experto na sua posição no solo, tem uma visão sincrética do seu conteúdo simbólico. Já ouviu e já leu algo sobre alguns dos símbolos presentes no Painel. Terá agora que estudar o seu significado, de modo a adquirir o conhecimento analítico de cada símbolo contida no Painel. Concluída esta fase, terá que conseguir fazer a interpretação do conjunto dos símbolos que compõem o Painel, ou seja a fase sintética do conhecimento da simbologia. Permitam que expresse agora a dúvida pessoal sobre esta fase sintética. Será que alguma vez estará concluída, ou ela é evolutiva e nunca acabada?

Tentarei no entanto dar um modesto contributo para a discussão desta dúvida. 

Na sua versão actual, o painel foi precedido na sua função iniciática por desenhos feitos no solo, por exemplo nas tabernas de reuniões maçónicas, como era o caso da Taberna Três Gansos, entre muitas outras. Na reunião na taberna os obreiros consideravam que, perante o Painel traçado no piso, o Espírito Maçónico descia entre eles, de modo que o humilde local se transformava num santuário venerável, pela magia do ritual e pela fé dos assistentes.

O Painel efémero era apagado no final da reunião, não deixando informação visível para olhos profanos. O Painel era desenhado em todas as reuniões pelo Irmão Experto. Esta situação manteve-se até 1730. Em 1808 Wiliam Digth pintou os três painéis dos três graus chamados Painéis de Grau ou Painéis Simbólicos. Em 1820 John Harris desenhou a sua versão de painéis definitivos, com uma dimensão média de 50cmX80cm

Actualmente o painel mantém-se impresso em forma definitiva e persistente.

Constitui o mais robusto símbolo da N:.A:.O:. em Loja, considerando que representa a Loja em si própria e é um repositório de uma parte significativa dos símbolos maçónicos. Representa uma visão do Templo.

O Painel é aberto no início dos trabalhos, com a parte cimeira virada para o Oriente, ou seja para o V:.M:.

É colocado no solo, a oriente das colunas B e J, entre os pilares Sabedoria (Jónica- Venerável Mestre- Inteligência criadora, que nos deve orientar no Caminho da Vida), Força (Dórica-1º Vigilante- a capacidade de realização, que nos deve animar e sustentar nos momentos de dificuldade em superar os obstáculos), Beleza (Coríntia-2º Vigilante- a faculdade imaginativa que adornar as nossas acções, o nosso carácter e o nosso espírito). Representam as Três Luzes da Loja e que no seu conjunto formam um triângulo ou um Esquadro virtual, atendendo à inexistência física dum pilar a Nordeste (local teórico do pilar da inteligência, que não tem representação física porque a inteligência tem que estar presente em todas as manifestações maçónicas).

8 de maio de 2022

DITA O VERSO

 


Transcrevemos, com a devida vénia e respectiva autorização, mais um poema de Adilson Zotovici:

DITA O VERSO

Segue livre o companheiro

Da terra ao céu em compasso

Na trilha que  vive o obreiro

Qual brilha a cinzel e maço


Coração de mel, mãos de aço

Labor desde o meio dia

Sem soberba ou estardalhaço

Com  amor, de esteio e guia


Grande Arquiteto Vigia

Sua obra e sua história

Do Seu projeto à porfia

Por Sua Honra e Sua Glória


A sua carreira é notória

A proposta, jamais sozinho,

Para  vencer barreira inglória

Interposta  em seu caminho


Registra antigo pergaminho

O Universo é seu canteiro

Dita amigo, com carinho,

Em verso...Livre Pedreiro !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif  169


4 de maio de 2022

Para uma nova realidade – que Maçonaria e Democracia no Séc. XXI ?

 


Para uma nova realidade – que Maçonaria e Democracia no Séc. XXI ?

I – Introdução

Maçonaria (a Liberal, Adogmática e Progressista, que defendemos) e Democracia serão sempre um assunto inesgotável. Partilho convosco algumas reflexões, que venho coligindo, desde o avanço da extrema-direita (ou de regimes «iliberais») na Europa e no Mundo.

Desde os antigos filósofos gregos, a Democracia, define-se com razoável clareza, por contraponto ao seu oposto, a ditadura, como sendo um sistema cujos poderes («cratos») emanam do povo («demos»), por oposição à autocracia despótica. M. Pinto dos Santos [1] define-a como sendo “politicamente uma doutrina que remete para os cidadãos a soberania total sobre o poder exercido”.  

A relativa estabilização democrática e civilizacional, que tínhamos assumido no mundo ocidental, como adquirida e estável (ou mesmo irreversível) após a derrota do eixo fascista em 1945, e talvez mais após a queda do muro de Berlim, reforçada posteriormente com a consolidação da UE, tem vindo a ser progressivamente ameaçada, neste Século. Segundo a ONU, o número de democracias no mundo tem vindo a decair, substituídas por novas ditaduras ou regimes iliberais, grande parte decorrentes dos conflitos entre os interesses geoestratégicos da Rússia e dos EUA e seus peões da UE (quando simultâneamente lhes convém), como é exemplo da actual, escandalosa, perigosa e trágica guerra na Ucrânia.  Mais grave ainda é o facto de tudo isto coincidir com a enorme crise pandémica com origem na China, que afectou gravemente em termos económicos, sociais e de saúde (e ainda continua, mas de forma mais suave) todos os países a nível mundial, sobretudo os mais pobres ou menos desenvolvidos. 

A generalidade das tradicionais famílias políticas europeias e dos seus líderes, face aos interesses dominantes, progressivamente foram-se esquecendo (pelos mais diversos motivos e crises geradas interna ou externamente) de cumprir com os eleitores, as promessas com que foram ganhando as eleições. Neste contexto e recorrendo fortemente ao suporte das   Novas Tecnologias e Redes Sociais, os extremistas de direita foram envenenando e divulgando rapidamente, aos crescentes milhões cada vez mais excluídos da globalização, as suas ideias (recauchutadas) do passado, sem, contudo, terem qualquer solução para tal. 

Entretanto a China, transformada na fábrica do Mundo, pela globalização sem limites, iniciada nos anos 70/80 do Séc. passado, tem vindo de forma cuidadosa e bem planeada, a estruturar o seu poderio crescente, preparando o futuro domínio a nível mundial.  Além de se agudizarem as tensões com os EUA (que se sentem cada vez mais ameaçados como «donos do Mundo»), (sobretudo a nível da Ásia / Pacífico), inteligentemente tira agora partido das sanções aplicadas à Rússia, aproveitando para aumentar a aquisição de bens essenciais (gás e petróleo ou outros) a preços bem mais em conta…, enquanto continua pacientemente a estender a parte em falta das malhas da nova «rota da Seda», pelos «caminhos» que delinearam.

Com clarividência (mas simultaneamente com significativo atraso), recentemente o ex-Presidente Obama afirmou: “A internet e as redes sociais “enfraqueceram a democracia” e “aceleraram alguns dos piores impulsos da humanidade”.  Esta simples frase e as suas tremendas implicações, devem fazer-nos pensar seriamente, já que estamos no início pleno da 4ª Revolução Industrial.

II – E a Maçonaria? Que desafios no futuro?

M. Pinto dos Santos [1] refere que “a Maçonaria, por regra e como defensora da liberdade, defende os sistemas democráticos, mas o exercício interno do poder nas lojas, até das Obediências, não segue por vezes as regras democráticas, mas outro tipo de regras ligadas mais a um regime tipo monárquico”.