DIALÉCTICA E MAÇONARIA, PORQUÊ E O QUÊ?
Porquê? Fundamentalmente por duas razões, a saber: em primeiro lugar porque não pertenço ao número dos NN∴QQ∴IIr∴ que já sabem tudo e que facilmente se empolgam nas certezas que definem, quer a N∴A∴O∴ quer o conceito de Dialéctica, antes pelo contrário, sou um seguidor do saber não sabido (tão caro a S. Freud), motivo pelo qual me vou dedicar, primeiro ao estudo do paralelismo/antagonismo entre Maçonaria e Dialéctica, e de seguida partilhá-lo convosco na medida em que os ecos dos outros são sempre bem-vindos, apreciados e indutores das respectivas correcções; Em segundo lugar porque me lembro sempre de F. Nietzsche que ditou para a posteridade estas palavras:…um pensador pode não aprender nada de novo, mas tem a obrigação de ir até ao fundo na descoberta daquilo, que para ele, é coisa assente…, o recado subtil que estas palavras encerram ajusta-se perfeitamente ao objectivo deste traçado.
O Quê? Também por duas razões: Na primeira citarei (Editado pela Comissão Editorial do Blogue) que diz…A Maçonaria é uma Ordem Universal, filosófica e progressiva, fundada na Tradição iniciática, obedecendo aos princípios da Fraternidade e da Tolerância, constituindo uma Aliança de Homens Livres e de Bons Costumes, de todas as raças, nacionalidades e crenças…, e na segunda farei um breve resumo da história da dialéctica baseado no livro “La Dialectique” de Claude Bruaire que passo a expressar: a Dialéctica não é senão habituar-se ao discernimento provável, recusar a confusão das premissas, eliminar sofismas e a indecisão concluindo com a razão que daí resulta. Parece simples este conceito, mas do senso múltiplo ao conceito unívoco muita água passará por debaixo da ponte.
Vamos esmiuçar: a razão deve enunciar a realidade com exactidão, adequação e universalidade, e esta é a fórmula-mãe do diálogo filosófico, e o estatuto dialéctico não importa tanto aos jogos da linguagem mas mais à capacidade de exprimir o que é, logo, por um lado o que é inefável e indeterminado é inacessível à linguagem e por outro lado a verdade não é um dado imediato e não nos é dada de modo instantâneo ou directo, assim, só através da linguagem conceptual e do discurso racional se pode atingir a Luz chamando-se a isto o prelúdio da dialéctica.
Recordemos que antes da invenção da lógica não havia senso conceptual, apenas o senso empírico e directo, daí os Idealistas terem proposto que o pensamento está aprisionado pelo corpo que usurpa o poder do conhecimento, ou seja, é a Era de Platão em que o diálogo dialéctico só abordava o saber das aparências, tratando-as como aparências e debatendo o pensamento com ele mesmo sem verificação, ou seja, a vaidade era o sumo da dialéctica, por se considerar que o que vinha do exterior não passava de um conjunto de opiniões estéreis.
Felizmente que a seguir veio Aristóteles (com o seu Organon) que definiu a dialéctica como um debate consigo mesmo mas, consigo mesmo, dar uma chance às correntes diferentes e contraditórias, quer dizer, conduzir-nos para lá de nós próprios apesar de ser um caminho solitário. Uma coisa é certa, se a razão discursiva levar a uma ciência demonstrativa, a dialéctica fica de fora por esta navegar na interrogação e no provável, ou seja, a nobreza da dialéctica está na investigação pelo debate salientando as oposições (a famosa negação da negação) e, sobretudo, fixa-se onde a ciência é muda. Tal como na maçonaria, a dialéctica abre a verdade que não consegue ser dita.