Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

28 de abril de 2021

E DEPOIS DA PANDEMIA


E DEPOIS DA PANDEMIA

Concluído um ano sobre a notificação do primeiro caso de covid-19 em Portugal (2 de Março de 2020), verificaram-se nesse espaço de tempo 804 956 pessoas infectadas (DGS), correspondente a uma taxa de incidência de 80/1 000 habitantes, a 16 351 óbitos (DGS) correspondente a uma taxa de mortalidade de 1,63/1 000 e a uma taxa de letalidade de 23/1 000. Do total de infectados, recuperaram 720 235 doentes, correspondentes a 89% dos infectados. A taxa de incidência é sempre maior nas mulheres a partir dos 10 anos de idade, e a mortalidade só é superior à dos homens a partir dos 80 anos. Ao contrário das doenças crónicas que são de longa duração e lenta progressão as doenças agudas, como é o caso das doenças víricas, são de curta duração e rápida progressão, exigindo, por isso, uma abordagem que limite o seu desenvolvimento e propagação. 

Enquanto as doenças crónicas são frequentemente multicausais, as doenças infecto-contagiosas são, pelo contrário, provocadas por um agente externo que penetra no organismo humano e altera o seu funcionamento, podendo, pelas suas características e pelos órgãos que afecta ter um desfecho fatal. Não é o caso do covid-19, cuja taxa de letalidade é muito mais baixa do que outras doenças, principalmente das doenças crónicas, como são os casos das doenças oncológicas e das doenças cardiovasculares, por exemplo. 

O que tornou a actual infecção por este vírus um caso particular, foi a circunstância de ela estar presente em todos os continentes e em todos os países, ser altamente contagiosa, ainda se desconhecer alguns aspectos do seu funcionamento, ser assintomática num grande número de casos e letal noutros, não existir terapêutica disponível para atenuar os sintomas mais graves que desencadeia e a única tecnologia capaz de o combater, a vacina,  ter um tempo de produção longo, apesar de neste caso ele ter sido excepcionalmente encurtado. Além disso, as medidas preventivas que foram necessárias tomar, se numa primeira fase foram aceites pela população, a sua repetição, causada por erros de cálculo, tornaram mais difícil a adesão às mesmas, causando um elevado grau de desconfiança quanto à capacidade dos responsáveis para lidar com este problema. Houve, por isso, durante algum tempo, alguma turbulência na gestão do processo de controlo da doença, considerando as múltiplas necessidades que ela exige e a sua satisfação atempada, de que se pode dar o exemplo a organização dos cuidados hospitalares que, apesar das imensas carências para dar resposta útil aos doentes, conseguiu que o SNS estivesse à altura do que lhe era exigido. Sem ele, a cacafonia, as ordens e contra-ordens, as orientações clínicas e a actuação dos profissionais iriam estar certamente expostos à ausência de um comando único, condição indispensável para tornar úteis as decisões tomadas.


Hoje, quando já existem sinais de que a pandemia começa a estar controlado, considerando os indicadores que nos são fornecidos pela autoridade de saúde nacional, há lições que já se podem retirar sobre o que aconteceu nestes meses, que poderão ser extrapolados para outras doenças, principalmente as doenças crónicas. "Uma verdadeira UE da saúde", defende o Presidente da República (DN, 25/03). Se considerarmos a incapacidade demonstrada pela Comissão Europeia para gerir as várias fases da gestão da pandemia, mas sobretudo a aquisição e distribuição das vacinas, tenhamos calma. A comissária Kyriakides tinha uma palavra a dizer sobre este assunto e não o fez. Foi preciso a presidente vir justificar as trafulhices da AstraZeneca limitando-se a uma explicação que parecia um comunicado do laboratório que produz a vacina. A exigência esteve sempre ausente das negociações com os laboratórios. Este é um dos exemplos do ambiente existente na saúde europeia. E não se lhe pode chamar política de saúde porque para o efeito teria de haver escolhas e escrutínio sobre essas escolhas. 

13 de abril de 2021

Tecnologia 4.0/F-M, Oportunidade e e Declínio

 


Tecnologia 4.0/F-M, Oportunidade e e Declínio

Incumbiste-me de tentar expor aquilo que penso… (Editado pela Comissão Editorial do Blogue)… e julgo que estaria no teu propósito tentar criar uma troca de ideias sobre qual o futuro perante o avanço tecnológico que se nos depara. 

Não deixarei de mencionar esse aspeto, mas tentarei incorporar o valor que consigo, condicionando essa visão do futuro ao comportamento, mais que à envolvente. 

Nesse sentido pareceu-me adequado partir de uma caracterização daquilo que somos, e tentar refletir sobre aquilo que seremos, ou que deveremos ser. 

Analisando as características das nossas práticas e posturas, entendemos que a maçonaria é sobretudo partilha, estudo, “cumplicidade” e uso integral dos sentidos. Por exemplo, na nossa vida não valorizamos o tato devidamente, sobretudo se formos saudáveis. Mas nas nossas práticas o tato tem um peso imenso, inclusive na ritualística, como bem sabemos. 

A Maçonaria transporta-nos para outras dimensões de perceção e comportamento que nos passam despercebidas na nossa descuidada vida profana. 

Na nossa prática Maçónica todos os sentidos e toda a partilha de sensações é exacerbada, mas ao mesmo tempo que ganhamos essa consciência, somos compelidos a ganhar uma capacidade de controlo adequada. 

Nada disto tem contrapartida numa relação virtual/digital, porque estruturar o trabalho Maçónico numa lógica virtual é, à luz daquilo que até agora praticámos, um contrassenso. 

Quando expomos ideias lendo qualquer tábua, o corpo também “fala” 

Portanto resultará evidente que o contacto presencial, a exposição presencial, com todos os meneios associados, durante a leitura de uma Pr:. ou um tríplice abraço não são replicáveis por via digital. 

Tentar ignorar isto, ou pior, tentar replicar virtualmente isto, é de todo impossível. 

Mas será isto um problema?!


 Teremos que introduzir outro nível de digitalização de Procedimentos, será uma evolução natural, mas isso terá assim um impacto tão grande?! 

A Maçonaria tem que passar a ser outra coisa diferente daquela que hoje praticamos, ou praticámos, se quisermos digitalizar-nos?! 

Esta Pandemia obrigou-nos a acelerar o contacto por vias digitais, mas irão surgir mais Pandemias e a digitalização das Sociedades é irreversível. Isso obrigar-nos-á a alterarmos tudo?! 

A resposta é

SIM e NÃO! 

11 de abril de 2021

Ensaio sobre a Cegueira Maçónica

 

Com a devida vénia e respectiva autorização, transcreve-se do Blogue Jakim&Boaz

Ensaio sobre a Cegueira Maçónica

Meus Irmãos Todos, 

Precisamos na Maçonaria, de relacionarmos o que fizemos nos nossos Templos, com o que a sociedade precisa para ser feliz. Caso contrário, sem margem de dúvida, não terá finalidade o que lá realizamos. 

Inicialmente com uma profunda reflexão sobre nossos valores e saberes relevantes, para que não fiquemos sómente no sonho ou na retórica estéril. E nisso, podemos utilizar o que a cultura nos proporciona, como por exemplo o filme "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", baseado na conhecida e muito divulgada obra de José Saramago,  e que muito bem foi transposta para a tela do cinema pelo cineasta Fernando Meireles. 

Há necessidade de nos analisarmos e verificarmos o que temos e precisamos aperfeiçoar para agir, no âmbito pessoal, como no âmbito institucional. O autoconhecimento. Existe um modelo chamado Janela de JOHARI, desenvolvido em 1963 por Joseph e Harry Ingham, em que os autores explicam as quatro áreas da personalidade humana baseada numa matriz originada por dois processos, a auto exposição e a busca de feedback. Uma destas áreas, a chamada área CEGA é aquela em que o próprio indivíduo não conhece aspectos a respeito de si mesmo, mas que os outros vêem. Esta “cegueira” impacta o nosso autoconhecimento e consequentemente a forma como nos relacionamos com os outros.

O mesmo facto ocorre com as organizações (na Maçonaria), que muitas vezes não conseguem perceber o que se passa dentro delas próprias e se não forem os clientes (os maçons), o mercado (as lojas), os consultores (os expertos) e outros instrumentos como os estudos, os debates, tais como as pesquisas, acabam por não se darem conta do que precisam melhorar. 

E nós MAÇONS, em todos os aspectos, precisamos melhorar. Melhorar nas administrações das lojas, com possíveis cursos para às LUZES, melhorar o ensinamento maçónico, com saberes relevantes e úteis para o concomitante  agir maçónico. 

Melhorar na relação de Fraternidade, com uma boa administração de recursos humanos. Melhorar com uma orientação de liderança maçónica que saiba agir nos múltiplos aspectos da gestão. Entre outras tantas e necessárias melhorias.

3 de abril de 2021

PÁSCOA, RENOVAÇÃO

 


Com a devida vénia e respectiva autorização transcreve-se mais um soneto de Adilson Zotovici, desejando a todos uma Boa Páscoa:

PÁSCOA, RENOVAÇÃO

Momento de introspecção

Que a “passagem” propicia

De dar asas ao coração

 Libertar-se da egolatria


 Inda que em solidão 

 Que impõe a pandemia

 Caridade é a razão

 Com Fé, esperança, alegria


 Da terra, toda energia

 À fecundidade, ao perdão

Do Alto, a Luz que Guia


Na paz a contemplação

Amor a ordem do dia

É Páscoa, é Renovação !

Adilson Zotovici


2 de abril de 2021

SOCIEDADE E MAÇONARIA NO SÉC.XXI -- a visão de um arquitecto

 


SOCIEDADE E MAÇONARIA NO SÉC.XXI  --  a visão de um arquitecto

Introdução

O presente artigo de opinião surge num contexto de reflexão de um pequeno grupo de livres-pensadores e numa época de pandemia, portanto com características específicas muito peculiares.

Reforço e esclareço alguns dos pressupostos enunciados no parágrafo de abertura, nomeadamente:

.  artigo de opinião – antítese de artigo científico, escapando à correspondente ditadura metodológica mas, em contrapartida, usufruindo das prerrogativas do kairos e da ágape/generosidade , antigos conceitos gregos que adiante explicitarei

.  pequeno grupo de livres-pensadores – não no sentido de insignificante mas, antes pelo contrário, reportando-me ao gSA e considerando um enquadramento, já proporcionado e mais circunscrito, consubstanciado em anteriores artigos directamente relacionados com a presente prancha, nomeadamente “Os Desafios da Tecnologia – Sociedade, Emprego e o Futuro”/I:.Salvador Allende, “A Maçonaria no Séc.XXI – Sociedade, Inteligência Artificial, Automatização e Desemprego – Que Fazer?”/I:.Isaac Newton e “A Maçonaria no Séc.XXI – porquê e como?”/I:.Cândido

.  época de pandemia/características específicas – não sendo um objectivo a análise exaustiva deste fenómeno, a reflexão incidirá nas alterações por ele provocadas no próprio entendimento da realidade; terá sido superficial ou substancial, acessório ou acelerador das mudanças em curso?

Reflectindo sobre a questão da Maçonaria no Séc.XXI, mas tentando evitar redundâncias relativamente aos trabalhos atrás enunciados, a tónica é posta na especificidade referida no sub-título “...a visão de um arquitecto”, ou seja, inspira-se em aspectos epistemológicos da arquitectura e no seu entorno metafísico, para esboçar propostas de fios condutores para a acção maçónica no contexto temporal contemporâneo.

Temas como as alterações climáticas, as questões da sustentabilidade, a mobilidade urbana, as novas tecnologias, as “smart cities”, as casas inteligentes ou a digitalização são certamente temas que “...a visão de um arquitecto”, perspectivando o impacto da arquitectura no pensamento maçónico do séc.XXI, ou vice-versa, deverá ter em conta mas, pessoalmente, julgo que há outros, menos ou raramente evocados, que considero pertinentes e portanto incluo na minha reflexão, nomeadamente o tempo e a memória.

Para justificar esta assumpção, para além dos argumentos que adiante serão apresentados, desde já recorro à opinião de uma colega, Helena Roseta, expressa num artigo de jornal (Público, 30/10/2019), do qual apresento alguns excertos:

“Vivemos... dominados pelo culto da juventude, padrão de comportamento e símbolo de saúde e beleza. A ditadura da novidade impregna as sociedades de consumo e gera uma aceleração e ansiedade crescentes, a que se junta a frustração da inacessibilidade às múltiplas e caras solicitações que bombardeiam as pessoas...

1 de abril de 2021

A Geometria e o Templo, A Mente e a Consciência

 


Com a devida vénia se transcreve este Artigo do Ir.'. Roman publicado na  Revista do Grémio Lusitano

A Geometria e o Templo

A Mente e a Consciência

A ordem de um nome é também a ordem das coisas, porque elas são transcendentes no plano da consciência, mesmo que diminutas no lugar da mente. A coexistência do Maçon com a sua realidade profana, existe em simultaneidade com a vivência no Templo da Fraternidade, que é ao mesmo tempo o da sua Interioridade. Este é um percurso longo que o Maçon percorre, e que representa uma linha espaço temporal na história dos homens, e ela perde-se na noite dos tempos, desde as longas noites da última glaciação de Würm, à volta dos fogos do grande inverno, quando as primeiras histórias e as primeiras iniciações, começaram a ganhar uma geometria.

A construção levantou-se com as primeiras pedras, feitas pináculos e menhires, imitando o ciclo do sol e da lua ao longo do ano, mimetizados pelo ritmo da vida, do nascimento e da morte, imprimindo na mente dos primeiros homens que pensaram uma ordem possível, uma eternidade desdobrada pela complexidade da sua mente.

O sonho, o espaço, as estrelas, os ciclos, em fim, a intuição e a descoberta da Razão, são o corolário da precepção última e primeira de uma Consciência abrangente, tão complexa como a rede neurónica do cérebro. Esta complexidade neuronal, semelhante em desenho ao micélio dos cogumelos, e em geometria irregular aos filamentos intergalácticos, o homem viu nos sonhos. E viu que era possível à sua semelhança, entender e desenhar o que via acordado e a dormir.

Foi, a partir desta constatação, de uma interrogação genuinamente simples, solitária e confrontada com a sobrevivência, que o homem saiu da sua Caverna, e deixou de ver as sombras do mundo. Ver-se a si mesmo, descobrir que pensa e que desenha, que levanta templos aos deuses sonhados, próximos e longínquos, foi o ponto de partida para uma geometrização da vida social, mas simultaneamente onírica, iniciática e espiritual.

O Segredo nunca foi mais do que o silêncio dos sonhos profundos, onde essa geometria sagrada, dada à partida como guia e mapa dos labirintos desenhados nos primeiros templos, passou a ser repetida por todas as gerações; melhorada, redesenhada até à exaustão, ampliada numa rede intuitiva, mais tarde redescoberta na sucessão dos números primos e nas sequências algorítmicas. Em fim, no dia chegado, a humanidade, principalmente os primeiros construtores, levantaram as majestosas pirâmides, e depois deles, outros reinventaram com planos de filigrana de pedra em toda a bacia do Mediterrâneo.

O famoso Segredo contagiava como uma virose a cultura Europeia, e num fenómeno epigenético, cruzado com a cultura céltica, lançou a primeira pedra de um Templo à Virtude. Um Templo que nunca foi acabado, sempre interrompido pelo mundo profano das guerras, das pestes e das pandemias virais e ideológicas. Apesar de tudo, o Segredo de uma Geometria Perfeita (a do Pensamento e a da Construção da Ética e da Sociedade), mantiveram-se através de bolsas de sobrevivência, aqui e ali. Em redutos de Sabedoria Tradicional, em Alexandria, em Bizâncio, no Lácio, em Marselha, em Paris, na Irlanda, na Escócia… em qualquer lugar onde resistiram homens livres e de bons costumes.