Com a devida vénia se transcreve este artigo de opinião de Clóvis de Barros Filho publicado no Blogue «O Ponto Dentro do Círculo»
Vaidade e Orgulho
(Publicado em Setembro 2015, São Paulo por Luiz Marcelo Viegas)
A palavra VAIDADE tem uma origem curiosíssima. Ela remonta muito a uma ideia da vida em vão. Então, claro, quando é que vivemos bem? Quando conseguimos viver dentro daquilo que nos é mais favorável, onde somos mais talentosos, mais competentes e assim por diante. Quem se conhece acaba conseguindo se encaixar melhor, levará uma vida mais feliz, melhor e mais harmônica com o resto. O VAIDOSO é um ignorante em si mesmo, alguém que por não entender o seu lugar, não conhece suas próprias competências e habilidades e acaba pretendendo viver em um lugar que não lhe é devido. Por isso é um vício, um equívoco existencial. Muito importante nesse momento diferenciar a vaidade do orgulho.
O ORGULHO é um afeto altamente positivo na existência por que no final das contas o orgulhoso é aquele que consegue identificar em si mesmo causas de alegria e isso, claro, é patrocinador de uma vida boa, por que quando você consegue identificar causas de alegria em si mesmo uma consequência imediata é identificar as próprias fragilidades. O Orgulhoso é sempre alguém que tem mais de si em si mesmo e portanto é necessariamente algo positivo. O vaidoso, na verdade, é um orgulho equivocado, é um orgulhoso que não se conheceu direito, um orgulhoso que não soube flagrar em si mesmo as reais causas de sua alegria.
A VAIDADE é uma tendência muito explicável por que os encontros com o mundo são potencialmente entristecedores e de certa maneira, na hora que você considera que o mundo que você encontra é o que é, inexorável, o que que poderia ser diferente para você não se entristecer. E aí, você conclui: VOCÊ MESMO! Então claro, o vaidoso é invariavelmente aquele que deseja demais não ser quem é justamente por que supõe que não sendo quem é evitará as tristezas e angústias que são concretamente as suas. Todo valor, seja um valor adequado a uma competência como no caso do Orgulho, seja um valor “transbordoso” e desalinhado como no caso da vaidade. Todo valor é uma construção social, resulta de um processo de socialização. É uma questão cultural e aí é que está o grande conflito que a filosofia clássica aponta. De um lado um apreço pela natureza que é a sua, em outras palavras é o que “Nietzsche” chamava de amor fati [1]. É você se reconciliar com o mundo como ele é, e aceitar-se como sendo como é, de certa maneira.
Doutro lado você tem uma sociedade, uma convivência e uma vida social que de certa maneira espera de você performances, espera de você a ocupação de postos, espera de você competências que nem sempre estão alinhadas com as tuas verdadeiras e naturais inclinações. No final das coisas pode-se imaginar o VAIDOSO como alguém “for ent” em sua aparência, mas no fundo é alguém que, ignorante de si mesmo, está disposto a VENDER-SE A SI MESMO EM NOME DOS ENQUADRAMENTOS SOCIAIS .
Autor: Clovis de Barros Filho
Nota
[1] – amor a algo.