
O silêncio nunca traiu ninguém. Esta afirmação atribuída a Pascal, posiciona bem a questão do significado filosófico do silêncio, por dois motivos: O primeiro porque faz do silêncio um instrumento de fraternidade. Se o silêncio nunca traiu seja quem for, guardar silêncio é uma atitude solidária, fraterna, em relação aos outros. Não falar é não trair.
O segundo motivo é bem diferente: Afirma, mas pela negativa, indo assim no próprio sentido profundo do significado filosófico do gesto de silêncio. Observar silêncio, é praticar, ou afirmar uma acção, que é o silêncio pela ausência de outra acção, ou seja, o silêncio afirma-se pela acção de não falar.
Ao ficar calado, significo aos outros o meu afastamento, ou a minha recusa da prática das palavras, ou seja dou um sinal de ruptura ou pelo menos de conflito na comunicação com eles.
Mas o próprio silêncio é por si só um discurso, e um espaço com dimensões filosófica, e retórica muito fortes e porventura mais marcadas que muitas frases, por mais elaboradas que sejam.