
Da Revista nº 21 do Grémio Lusitano se transcreve, com a devida vénia, este artigo de António Valdemar (Jornalista e Investigador):
MAÇONARIA E LIBERALISMO
ANTÓNIO VALDEMAR*
MAÇONARIA NOS AÇORES:
TIPOGRAFIA E JORNALISMO
O século XIX nasceu com promessas de igualdade e de justiça. É todo um mundo novo que, logo nas próximas décadas, impulsionou profundas transformações políticas, sociais e económicas. Já havia sido reconhecida a independência dos Estados Unidos (1783) que permitiu a autonomia dos povos e a
libertação das colónias submetidas ao domínio da Inglaterra; e, pouco depois, a Revolução Francesa (1789) que marcou o começo da queda do absolutismo na Europa, reconheceu os direitos do homem e do cidadão e abriu caminho para a República.
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1 PEREIRA, A. X. da Silva Diccionario Jornalístico Português, manuscrito nos reservados da Academia das Ciências; Tengarrinha José
Historia da Imprensa Periódica Portuguesa.
2 SORIANO, Luz, Recordações da Minha Vida, 2ª edição 1890
3 LIMA, Gervásio, Serões Açorianos, pág 36
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Portugal, apesar de séculos de atraso, de isolamento e das inevitáveis resistências, não vai ficar à margem deste processo histórico e cultural. A revolução liberal de 1820, nas suas várias fases, determinou o incremento da imprensa que permitiu o debate de ideias, o confronto de opiniões, a expansão do jornalismo e a formação de uma consciência democrática. A tipografia chegou, em 1829, aos Açores. Foi no período da Regência que se destinou a preparar a expedição organizada por D. Pedro, que seguiria de Ponta Delgada para o Mindelo, a fim de aclamar, após a Convenção de Évora Monte, D Maria II rainha de Portugal. Palmela adquiriu em Plymouth um prelo, juntamente com tipo, caixas e cavaletes que embarcaram para Angra, a bordo da galera James Crooper, que transportava elementos do Batalhão dos Voluntários da Rainha formado por estudantes da Universidade de Coimbra. Ficou, de início, no Castelo de São João Baptista passando, depois, para uma casa na rua da Sé, fronteira à rua de São João. O investigador Gervásio Lima
(1876- 1945) admitiu a implantação da tipografia em Angra, no século XVI, «trazida, provavelmente,
pelos conquistadores espanhóis, e por aqueles talvez levada quando retiraram» convertendo a
ilha Terceira «num dos primeiros pontos do globo atingidos pela grande maravilha do progresso
– o maior luzeiro civilizador». Baseava-se Gervásio Lima numa Relacion de la tomada Y conquista
de la isla Terceira e (…) fecha en la Ciudad de Angra de la Isla Tercera a 11 de Agosto, mil quinientos y ochenta e tres. Ernesto do Canto mencionaa na Bibliotheca Açoriana4 mas sem quaisquer comentários relativos aos primórdios da tipografia em Angra. Apenas acrescenta que Ludovic Lalande a incluiu em Curiosités Bibliographiques. Era provável que, na época, houvesse
tipografia em Angra. A ilha Terceira e o próprio arquipélago dos Açores evidenciavam-se, no plano nacional e internacional. Frutuoso classificava a Terceira, entre a Europa e a América, como a «universal escala do mar poente e por todo o mundo celebrada».