Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

28 de outubro de 2015

Cândido


A escolha de um nome simbólico foi, ao menos para um iniciado como eu, tarefa difícil e merecedora de reflexão.

De facto, que critérios e que princípios me deveriam balizar?

O primeiro exercício foi o de listar os nomes de maçons famosos, em Portugal e no estrangeiro. Mas verifiquei, sem grande surpresa, que pouco ou nada sabia que me permitisse com eles identificar de forma clara e sem dúvidas.

Decidi por isso fazer uma escolha mais pessoal.

A começar ....(A Comissão Editorial do Blogue decidiu omitir o conteúdo por possuir dados pessoais)...

O primeiro motivo da escolha constitui pois o de homenagear esse homem bom.......(A Comissão Editorial do Blogue decidiu omitir o conteúdo por possuir dados pessoais)...

O segundo motivo tem como referência António CÂNDIDO de Figueiredo, ilustre funcionário público, jurista e intelectual dos finais do Século XIX e princípios do Século XX.

Citando a ficha bibliográfica da Universidade de Lisboa, Cândido de Figueiredo nasceu a 19.09.1846 no lugar de Lobão da Beira, concelho de Tondela. Concluiu a 19.06.1867, no seminário de Viseu, o curso de Teologia. Ingressou na Universidade de Coimbra, matriculando-se na respectiva Faculdade de Direito (1869-1874). Participou na chamada Questão Coimbrã. Não lhe agradando, porém, a vida eclesiástica a que a família o destinara, conseguiu, após obstinados esforços, que o papa Leão XIII o dispensasse de ordens eclesiásticas. Casou com D. Mariana Angélica de Andrade. Em 1876 veio para Lisboa advogar, estabelecendo um escritório privado em parceria com Júlio Vilhena. Desempenhou algumas comissões oficiais de instrução pública, por incumbência do Ministério do Reino, sendo nomeado inspector das escolas do distrito de Coimbra. 

No ano seguinte foi nomeado conservador do Registo Predial da comarca de Pinhel e transferido depois para Fronteira e em seguida para Alcácer-do-Sal, onde exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal. Por várias vezes exerceu as funções de director geral da Justiça. No ministério de Dias Ferreira, foi governador civil de Vila Real; e, quando foi ministro das Obras Públicas, Bernardino Machado (ilustre Maçon) nomeou-o seu secretário particular. Foi poeta e jornalista, tendo colaborado em inúmeros periódicos. Fundou e dirigiu a Capital, foi redactor do diário Globo. Entrou depois para a redacção do Diário de Notícias, onde se manteve por largos anos. Foi lexicólogo e linguista de renome. Fez parte da comissão encarregada de fixar as bases da ortografia, juntamente com os professores Carolina Michaelis, Gonçalves Viana, Leite de Vasconcelos, José Joaquim Nunes e outros (1891). Foi membro da Academia das Ciências de Lisboa, da Real Academia Espanhola e da Academia Brasileira de Letras. 

Em 1887, o professorado de ensino livre elegeu-o vogal do Conselho Superior de Instrução Pública e em 1890, pelo Ministério do Reino, foi nomeado para fazer parte da comissão encarregada de rever a nomenclatura geográfica portuguesa. Com Luciano Cordeiro e outros fundou, em 1876, a Sociedade de Geografia. Quando faleceu, a 26.09.1925, era presidente da Academia das Ciências de Lisboa. Deixou várias obras relevantes para o Direito Administrativo, o Grande Dicionário Cândido de Figueiredo e mais de 300 títulos entre estudos técnicos, novelas e contos.

A terceira referência é o conto Cândido ou O Otimismo escrito em 1758 pelo escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês Voltaire, de seu nome François Marie Arouet, nascido em Paris a 21 de Novembro de 1694 e falecido nessa cidade em 30 de Maio de 1778.

Voltaire foi iniciado maçon nesse ano, na Loja "Les Neuf Soeurs", ingressando no Templo apoiado no braço de Benjamin Franklin, embaixador dos Estados Unidos da América em França. A sessão foi dirigida pelo Venerável Mestre Lalande  (astrónomo e fundador desta Loja, juntamente com o filósofo Helvetius) na presença de 250 irmãos. O Venerável Ancião foi revestido com o avental que pertenceu a Helvetius e que fora cedido para a ocasião pela sua viúva.

Voltaire foi um dos homens mais influentes do século XVIII, conhecido por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza e por se opor à intolerância religiosa, defendeu as liberdades civis e combateu o absolutismo e o poder da Igreja Católica, o que lhe valeu a prisão e o exílio. Importante pensador do iluminismo francês, as suas ideias influenciaram muito os processos da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos. 

O seu pensamento sobre a liberdade de expressão pode resumir-se na frase " Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo ". De entre as cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias (peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas), destaca-se o título Cândido ou O Otimismo. É um conto filosófico em tom de sátira em que o autor narra a história de um jovem, Cândido, vivendo num paraíso edênico e recebendo ensinamentos do otimismo de Leibniz através de seu mentor, Pangloss. A obra retrata a abrupta interrupção deste estilo de vida quando Cândido se desilude ao testemunhar e experimentar eminentes dificuldades no mundo, retratando eventos muitas vezes baseados em acontecimentos históricos, como a Guerra dos Sete Anos ou o terramoto de Lisboa de 1755.

Voltaire ridiculariza a religião, os teólogos, os governos, o exército, as filosofias e os filósofos por meio de alegorias e o livro foi amplamente proibido por conter blasfêmia religiosa, sedição política e hostilidade intelectual, escondidos sob um fino véu de ingenuidade.

Adaptado para a ópera e o cinema, o romance de Voltaire influenciou diversos autores, nomeadamente o 1984 de Orwell (escrito em 1948), o Admirável Mundo Novo  (1932) de Huxley e a reflexão sobre pessimismo e otimismo em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Quincas Borba  (1891) de Machado de Assis.

Enfim e para concluir, penso que esta escolha, e as três referências que a motivaram, me orientará quer no trabalho sobre a pedra bruta, quer no caminho da Luz que se poderá simbolizar no silêncio a que estou restrito, não como mordaça punitiva mas como conduta que levará à reflexão construtiva.

Cândido, Apr:.
Bibliografia:

Voltaire - French Philosopher - Biography (www.egs.edu/library/voltaire/biography)

 “Iniciation de Voltaire Dans la Loge des Neuf Soeurs”, A. Germain, Paris, Bureau de La Chaine D’Union

Cândido Figueiredo – Catálogo Bibliográfico FCT/UNL (https://opac.fct.unl.pt)

Documentos – Faculdade de Direito da UNL (www.fd.unl.pt)

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